Santa Catarina é o berço do voto eletrônico no Brasil. A história tem início no 1º turno das eleições presidenciais de 15 de novembro de 1989, em Brusque, cidade no Vale do Itajaí, quando um microcomputador foi usado pela primeira vez para coletar os votos em uma seção eleitoral.
A tarefa foi organizada por ex-desembargador Carlos Prudêncio, na época ainda juiz eleitoral da cidade, que escondeu a ação da “chefia” após ser proibido de empregar tecnologia nas eleições.
“Os eleitores terminaram de votar, e logo depois das 17h de 1989 fizemos a transmissão do computador onde votaram e apliquei a primeira eleição com urna eletrônica”, resume.
A primeira experiência do desembargador Carlos Prudêncio com o computador nas eleições, no entanto, ocorreu aconteceu quando o catarinense era juiz eleitoral em Joaçaba, no Oeste do estado, em 1982. Com a vontade de acelerar o resultado dos votos, ele usou um computador que pediu emprestado a um jornalista.
Atualmente, Prudêncio é considerado inventor da urna eletrônica pela Assembleia Legislativa catarinense e pela Câmara de Vereadores de Brusque. Nas duas instituições ele já recebeu honrarias pelo feito e foi citado em solenidades.
Natural de Tubarão, no Sul catarinense, o desembargador buscava avanços no processo eleitoral desde 1968, quando se tornou juiz eleitoral pela primeira vez, aos 24 anos, em Santa Catarina. Naquele tempo, ele diz, eram comuns os relatos de ilegalidades em diversas etapas do processo eleitoral.
“Eu fui aprimorando o processo de voto manual. As minhas comarcas estavam sempre em primeiro lugar na divulgação dos resultados”, afirma. “Eu queria realizar o meu sonho em favor do Brasil”.
Empecilhos para primeiro voto em computador
Prudêncio encontrou barreiras para inserir a votação de forma automatizada em Brusque, principalmente por conta do desconhecimento de empresários do TRE com as tecnologias da época.
Em 1988, começou a buscar formas de agilizar a contabilização dos votos e chegou a procurar autoridades da região para solicitar o empréstimo de computadores. Donos de fábricas e empresários disseram não.
O magistrado, porém, não desistiu e convenceu o irmão Roberto Prudêncio, programador de Blumenau, cidade vizinha de Brusque, a emprestar o dispositivo particular que possuía.
O familiar também o ajudou na criação do sistema que contou ainda com informações de um satélite para interligar as informações: “Foram muitos testes”.
“As pessoas estavam assustadas [com os computadores] porque, tanto em Joaçaba como em Brusque, não tinha seu nome popularizado por ser de uso muito restrito a quatro firmas apenas. Também, muito curiosos, porque, além de nunca terem visto o aparelho, não imaginavam como utilizá-lo. Nem mesmo o Tribunal de Justiça e nem o tribunal eleitoral tinham o equipamento”
Com o sistema pronto, ele apresentou a ideia para os superiores, mas a resposta também foi negativa. Mesmo assim, decidiu seguir com o plano.
No primeiro turno das eleições de 1989, 373 eleitores votaram pela primeira vez usando um computador em uma seção de votação sem autorização do TRE de Santa Catarina.
A notícia, segundo Prudêncio, espalhou-se pelo país sobre como o uso dos computadores nas eleições chegaram a outras cidades catarinenses: “O TRE-SC resistiu o quanto pode, até que o presidente do TSE mostrasse interesse e viesse a Brusque e dizer ao Brasil que era o maior invento na área eleitoral no mundo”.
O fato ganhou as manchetes dos principais jornais do estado. O Diário Catarinense em 16 de novembro daquele ano escreveu que os eleitores “não encontraram dificuldades para digitar o número do candidato, não consumindo além de 23 segundos”. O programa aplicado também incluiu o voto branco e nulo.
Muito antes de Prudêncio pensar em usar um computador para auxiliar no processo de votação, as eleições em Santa Catarina e no Brasil tinham como maquinários urnas em madeira e até lonas, ainda no início do século XX.
Fonte: G1